"A Flor do samba" e Virgílio Azevedo

No Estação cultura com "A flor do samba" no tributo a Clara Nunes em 2003

Karine Telles já se apresentava cantando MPB em bares e casamentos, sempre muito elogiada. Mas, em 2003, o jornalista e produtor cultural Carlinhos Guimarães promove o encontro profissional entre Virgílio Azevedo (à frente do grupo Flor do Samba) e Karine Telles, no "Estação cultura", um espaço que deixou saudades em todos os frequentadores do local... Ela, que sempre cantou samba nas suas apresentações, passou a acompanhar um grupo especializado em samba de raiz, com uma formação adequada ao gênero. Era um impacto delicioso chegar a um espaço com música ao vivo e, ao invés de violão e voz, ou teclado, encontrar cinco a seis músicos maravilhosos e uma grande cantora. Importante lembrar que tudo isso antecedeu a tendência que se tornou moda nos anos seguintes, antes de surgirem no mercado de música Roberta Sá, Mariana Aydar, Maria Rita cantando sambas! Eram noites memoráveis, às 19h aos domingos ocorriam os encontros e, já depois da meia noite a Karine começava, numa interpretação sofrida, a cantar "Dia a dia", de Jaime e Candeia... "Não é mole não, acordar segunda feira pra tentar ganhar o pão...". Como professora de educação física ela tinha que dar aula às 7h da manhã seguinte!
 
Esse fato, na minha opinião, marcou o encontro da cantora com o seu lugar na música. Delineou-se, a partir de então, a base do trabalho da Karine, uma grande intérprete, que pode cantar o que quiser, mas que tem no Samba seu porto seguro, a sua casa. A partir daí Karine abraçou o samba, e o samba comovido a abraçou num casamento em que o amor é muito mais importante que a fidelidade. Porque o samba e a karine fazem um triângulo amoroso com a música, em que todos ganham sempre, sem perdas. nossos ouvidos agradecem!
 
Fiquei comovido ao encontar o belo texto de Virgílio Azevedo como comentário a um vídeo da Karine no Blog "Página cultural". Transcrevo aqui o texto do Virgílio e recomendo visitarem o blog citado para ver o vídeo.
Penso que Karine nasceu dentro de um surdo e só saiu de lá quando ouviu um pandeiro revirando as platinelas da dona Eleusa, a matriarca guerreira que colocou no sangue dessa “menina” o espírito da luta e da vitória, apesar de toda e qualquer dificuldade. Quando entrou no grupo Flor do Samba, dei-lhe um anel de prata em forma de rosa e a batizei de “A flor do samba”. Hoje, emocionado e orgulhoso por sua tragetória e dedicação ao samba, sou o seu compositor. Havia quem duvidasse que essa “menina” fosse chegar lá. Menos os que a conheceram à alma, como eu. Mas a maioria sentia nela um vigor de espírito interminável e apostava que tudo era só uma questão de tempo e maturidade. Vejam aí, a “menina” do Flor do Samba, do Eterna Chama, nos braços do povo do Brasil. Sai da frente. Vem aí Karine Telles, levantando poeira, fazendo sorrir, fazendo chorar, na batida perfeita do surdo que agora, já pode escutar. Nas platinelas do pandeiro, na flor da pele de quem sabe que o samba é o que é ser brasileiro. Viva a Flor do Samba!
 
Virgílio Azevedo
 

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